O tênis chiou. Ou será minha cadela gritando de dor por eu ter pisado em sua patinha? Os sons abraçaram-se e eu me perdi. Sim; foi o tênis. Alívio recompensado por um beijo no pelo negro quase escasso.
Ela me olha surpresa e confusa. Meus olhos cruzam os seus numa linha pontilhada e vejo o símbolo da pergunta:?. Outro beijo. Parece que ela esqueceu a pergunta. Ainda bem. Também esqueci a resposta.
Dá-me uma sensação compressora e aliviante. Começo a entrar no pensamento do meu pensamento. Quero escrever. Quero viver. Quero minha literatura.
Meu corpo pede meu comprimido de êxtase: minha literatura. Não se importe com a repetição de palavras. Minha literatura. Normal, pois. Quero frisar meu vício. Minha literatura. Não quero ser apenas existencialista. Quero ser naturalista. Parnasiana. Realista. Modernista. Classicista. Barroca. Quero ser irregularidade pura no meu sangue escarlate.
Passo na praia. O mar me observa, mas não consigo enxergar os seus olhos. Incômodo. Mistério Alucinante. Poseidon egoísta e intimamente tímido.
Olho pro lado. Vendedor de coca-cola não agüenta mais gritar. Essa é a nossa Copacabana. Cansaço batendo. Osmose sofrendo. Calor assassino.
Ele vai até o mar mergulhar. Uma saída para o dia de verão sufocante. Deixa suas coisas na areia. Pouco longe, bastante perigo.
Peixes miúdos cruzam seu corpo. Moleque atentado cruza a praia levando o isopor. O homem vê e nada faz. Falta de forças. Barriga saliente. Corpo esgotado. Representação fragmentada de um übermensch.
Ele senta na areia e olha a azulidade preciosa. Não foi esta quem o roubou, camarada. Não o olhe assim. O mar está tímido e ocupado comigo.
M’en vais. Dia escurecendo, automóvel chegando e estudantes do Sacre-couer percorrendo a superfície. Vivendo no gerúndio, presenciado o particípio, que eu esteja no subjuntivo. Amém.