Um belo dia de verão, pouco antes do crepúsculo, as borboletas voavam pelo ar abafado e úmido da grande cidade. Com os pés sujos de terra, a menina-sem-nome corria pelas ruelas do vilarejo, sentindo o vento no rosto e os cabelos voando como as borboletas. Pára, e então enxerga. E então vê. E então se aproxima.
E então se vê nítida naquela superfície lisa que refletia seu eu. Era bonita. Toma consciência de si mesma. Num delírio, a menina vira mulher, e seu nome parece então ter relevância. As borboletas passam batidas e o vento é só um adendo. Outros olhares, então. Lava os pés com o melhor sabonete, as correrias cessam, o vilarejo já é pequeno demais para suas ambições.
A avó que já não enxerga há tempos, mas ainda vê, sofre calada: “A vida”, resmunga.
(Uma saudação irônica à literatura e seus espelhos e suas reflexões, a Luciana que procura mais literariedade em mim e a ONA, minha musa inspiradora para esse post).