terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Post 6: Vai ser Gauche na vida.


Um dia comum na zona sul do Rio de Janeiro.Trânsito frenético, pessoas hiperativas correndo de um lado ao outro em busca de um não-sei-o-quê.Mas existia, sentado em um banco da orla copacabanense, um senhor.Um senhor pensativo e estático.

E a eterna Segregação Sócio-espacial. Prédios pomposos, imponentes situados na Avenida Atlântica e casinhas precárias no morro adjacente. Paradoxo infiel.

De repente, não mais que de repente, uns estalos no céu. Tiros que se confundiam com fogos de artifício.Correria. Fato freqüente no Rio.

E aquele mesmo senhor estático sentado em um banco da Atlântica.

Viaturas policiais com suas sirenes apitando, denunciando alguma irregularidade, em direção ao tal morro.

E aquele mesmo senhor estático sentado em um banco da Atlântica.

Mais tiros.

Agora, sim, eram fogos. Fogos denunciando a entrada da polícia no morro.Uma espécie de “código-morse” transviado, marginalizado.

E aquele mesmo senhor estático sentado em um banco da Atlântica.

Mais tiros.

Mais pessoas correndo desesperadas.

Mais estabelecimentos comerciais fechando suas portas.

Trânsito menos frenético em função da violência.

E aquele mesmo senhor estático sentado em um banco da Atlântica, calmo, olhando aquilo tudo num olhar mágico, petrificado.Um senhor calvo, de óculos, mãos cálidas e um olhar consolador.

Esse senhor foi um poeta. Um homem sensível. E, em função desta sensibilidade, tornara-se levemente arredio à sua própria espécie. Guardava no sobrenome a alma carioca: Drummond.”Drum” de “alta”.”Onde” de”onda”.”Onda alta”.O mineirinho mais carioca que o Rio de Janeiro já pegou pra criar. Esse mineiro-carioca, observador, era Carlos Drummond de Andrade, o Carlito, em sua estátua em Copacabana.

E este mesmo senhor estático sentado nesse banco da Atlântica estava a observar a destruição da sua Cidade Maravilhosa.